Trilho dos Pescadores COSTA VICENTINA – SW ALENTEJANO

O sudoeste Português ou SW Alentejano como é conhecido, repleto de escarpas para o oceano atlântico e com praias que a vista não consegue alcançar o fim, areias brancas e moles criam dunas repletas de vegetação muito própria e à medida que se desce para sul as dunas transforma-se em rochas lapidadas pelo tempo criando os penhascos conhecidos apenas pelos pescadores que por ali se aventuram.

As belezas da costa Alentejana é já há muito divulgada e se calhar por isso mesmo fazia parte dos meus trekkings a fazer.

Em setembro de 2018 chegou finalmente a altura de conhecer uma das pérolas naturais de Portugal.

Esta é uma viagem por uma das mais belas grande rotas da europa com altos e baixos cheios de areia e sol.

Preparação

Somos 4 pares de pernas que vamos percorrer os 75 km do trilho dos pescadores, em completa autonomia.

Nos meses anterior foram adquiridos os equipamentos que faltavam e foram compiladas as checklists (Download PDF’s). Compramos as refeições desidratadas que nos iriam sustentar ao longo dos quatro dias de mochila às costas.

Estudamos o percurso, fez-se o plano e os preparativos necessários.

O percurso é composto por 4 etapas

  • Porto Covo » Vila Nova de Milfontes 20 km  [8~9h]

Chegamos a Porto Covo de Autocarro e em Vila Nova de Milfontes ficamos no Parque de campismo

  • Vila Nova de Milfontes » Almograve 15 km [5~6h]

Em almograve ficamos na Pousada da Juventude devido a não haver Parques de campismo na zona

  • Almograve » Zambujeira do Mar 22 km [7~8h]

Na Zambujeira do Mar ficamos num dos melhores parque de campismo que já tivemos o prazer de experimentar

  • Zambujeira do Mar » Odeceixe 18 km [7~8h]

Em Odeceixe ficamos num parque de campismo que ficava a 2 km do centro da cidade, mas era longe demais para irmos até à famosa praia de Odeceixe. No dia seguinte apanhamos o autocarro de regresso a Lisboa.

A viagem

Dia 0

Eu, a Vanessa e o irmão dela, o Óscar, saímos do Porto, às 16h47, no comboio directos a Lisboa. Chegamos à capital à hora de jantar, encontramos com o Pedro, devoramos uns frangos da famosa churrasqueira de Alvalade e fizemos os últimos preparativos. 

O cansaço acumulado da última semana de trabalho em combinação com a noite, mal dormida, passada à volta de mochilas a distribuir peso e a criar o maior conforto possível para todos nós, irá reflectir-se no meu primeiro dia nos intermináveis trilhos de areia.

Dia 1

7 e 30 da manhã, autocarro parte de Sete Rios (Lisboa) e após 2 horas e 30 minutos chegamos a Porto Covo, colocamos as mochilas e como é costume sentimos cada grama, no início de cada caminhada o corpo nunca está habituado à mochila, muito menos a 14 kg. 

E lá vamos nós em direção a Vila Nova de Milfontes por entre dunas e praias.

No início do percurso as vistas eram agradáveis e ao passarmos pela praia da ilha do Pessegueiro, sentimos a areia a afundar-se debaixo dos nossos sapatos com a ilha e o forte a completar o cenário.

Alguns quilómetros depois do forte do Pessegueiro iniciou-se a minha tormenta, câimbras constantes que me tiraram qualquer satisfação que poderia tirar de andar a subir e a descer dunas atrás de dunas sem qualquer regalo para a vista. A agonia perdurou e só foi aliviada, passados quilómetros, pelo mergulho nas águas geladas da praia do Malhão. 

Pensei em desistir, mas com a o apoio do resto do grupo lá continuei, e ainda bem pois para mim, foi a parte mais bela da primeira etapa desta aventura. O resto do trilho até ao Porto das Barcas, com por-do-sol a acompanhar-nos, criando sombras e cores indescritíveis nas dunas. A Vanessa e o Óscar estavam desconfortáveis com o facto de ficar à noite no trilho mas para mim foi quando as dores desapareceram e os desmotivantes relevos de areia transformaram-se numa bela paisagem.

Areia e mais areia que acaba em areia. O parque de campismo, Camping Milfontes, era em areia e nós ainda a terminar o primeiro dia já não podíamos ouvir falar em areia.

Dia 2

A noite pareceu curta após o esforço do dia anterior. Tínhamos chegado tarde ao parque de campismo, tomamos banho e engolimos qualquer coisa antes de nos enfiarmos nos sacos cama. 

Já com o sol bem alto e com a mochila mais leve e com um novo ânimo retomamos o caminho. Começamos por atravessar a vila em direção à altíssima ponte que atravessa o rio Mira, descemos em direção à praia das Furnas e o trilho começa em areia camuflada pelo nevoeiro. O ar fresco e húmido deu-nos energia para começar o dia mas foram as vistas do topo dos penhascos sobre algumas das maiores praias de toda a costa que nos fizeram continuar passo após passo. 

No início do trilho passamos por uma pequena enseada repleta de seixos com uma escada improvisada usada pelos caminhantes e locais para se deslocarem junto à costa. Continuamos por carreiros de areia até entrarmos na vasta área de cultivo de relva, relva está verde e fresca, regada por sistemas peculiares  e automatizados que criam gigantes jactos de água que vão sendo disparados em círculos. 

Foi no fim do último campo de relva que sentamo-nos um bocado a descansar e a almoçar. Continuando caminho, o percurso alterna entre troços de areia e troços de vegetação com vistas deslumbrante e o cheiro do ar salgado do mar.

Nesta etapa tivemos os primeiros vislumbres do porquê do nome do trilho. Rochas escarpadas com pescadores empoleirados à procura do melhor sítio onde o peixe morde.

Chegamos a Almograve e vemos os vários pescadores a caminhar pelo mar adentro da Praia da Foz dos Ouriços, praia com uma zona de rebentação repleta de rochas e com uma zona de rebentação que se prolonga por uma dezena de metros. 

Em almograve ficamos na pousada da juventude, camas bem recebidas pois seriam as únicas destes dias de caminhada, assim como os duches quentes em casas de banho privativas. As escadas para os quartos pareciam um suplício após os últimos 15 km em areia, cada degrau era um esforço imenso para os músculos das pernas mas pior estava o Óscar, que queixava-se das bolhas nos pés ao ponto de nem querer ir jantar, já o Pedro, na sua tenra idade, cheio de energia ainda fez todas as rotinas do grupo, foi às compras onde trouxe água, bananas e outros suplementos necessários para a etapa seguinte.

Almograve é uma pequena vila mas não foi por isso que tivemos dificuldade em arranjar um lugar para jantar algo que não fosse uma refeição desidratada. Hora de dormir e aproveitar o conforto de um colchão.

Dia 3

Acordamos com os corpos rejuvenescidos e acariciados pelos colchões e lençóis, descemos para o pequeno almoço típico das pousadas e cheios de energia voltamos aos trilhos.

O dia começa por irmos em direção às praias, passamos por cinco grandes praias, percorrendo uma mistura de estrada com…adivinhem…AREIA… que terminava no pequeno Porto de Pesca de Lapa de Pombas.

Nesta etapa os desníveis são trocados por um caminho mais constante e a areia parece ganhar uma nova cor mais quente. Aqui tem-se algumas das paisagens áridas mais belas do percurso, percorremos trilhos estreitos junto a algumas das enseadas com as formações rochosas peculiares, com destaque a linda praia do Cavaleiro. 

Quanto a caminhar já estamos todos bem acostumados a rotina do trilho e com a mochila cada vez mais leve as horas do dia tornam-se mais prazerosas onde o desconforto é trocado pela admiração. Passamos por Cavaleiro, uma pequena vila típica da costa que nos leva por caminhos apertados mas planos até ao farol do Cabo Sardão, nesta zona existe algum desenvolvimento de infraestruturas como os infames passadiços, um campo de futebol e alguns miradouros. 

O percurso segue sem grandes alterações por uma boa parte da linda costa, passando pela característica praia do Tonel, terminando numa descida íngreme auxiliada por cordas, que nos leva até ao Porto das Barcas, apenas para depois fazer-nos subir o íngreme caminho que nos leva à estrada até à Zambujeira do Mar. 

Chegamos a Zambujeira do Mar e deparamo-nos com um dos melhores parques de campismo que já tivemos, Camping Villa Park Zambujeira. O parque tinha uma ambiente cativante e tudo estava muito limpo, a recepcionista foi muito simpática e prestável. Com um preço mais do que justo, tínhamos acesso a água quente nos balneários, a uma piscina e jacuzzi assim como várias zonas de lazer, tivemos ainda, por um extra, a possibilidade de lavar e secar as nossa roupas, a cereja no topo do bolo foi uma roulote com frango assado que nos tirou da rotina das refeições desidratadas e barras energéticas.

O jantar veio após relaxarmos no jacuzzi de água fria, duches e mais uma vez o Pedro fez quase todas as tarefas e compras necessárias para o dia seguinte.

Fascinados com a bonita a lua cheia, e o estômago e a alma satisfeitos deitamo-nos a preparar o corpo para a nossa próxima e ultima etapa.

Dia 4

O dia começa cedo e rapidamente desmontamos acampamento para metermo-nos a caminho de Odeceixe, o nosso destino final.
Esta etapa para mim será a com maior beleza assim como a mais fácil de percorrer, são 18 km, mas os trilhos areia são trocados por pequenos morros com trilhos em terra clara e até alguma lama. 

Os trilhos que cortam as escarpas junto ao mar levam-nos por caminhos que passam por terrenos, onde são criados animais exóticos, Avestruzes, bisontes e búfalos, para pouco depois chegarmos a espaços verdejantes que terminam em altas rochas negras que levam o olhar até às areias brancas que estão dezenas de metros abaixo de nós. 

Passamos por pinhais que nos levam a caminhos tortuosos por entre vegetação que acabam em praias paradisíacas como  a praia da Amália, assim apelidada devido a localizar-se por baixo da remota casa de férias da famosa fadista.

É após essa praia que subimos a um dos ponto mais altos do percurso passando outra vez por enseadas a perder de vista. Um pouco mais à frente que passamos por uma vegetação mais densa que começa a dar lugar a uma visão desoladora de lixo, sucata e outros objectos outrora desejados mas já sem utilidade para os seus antigo donos, que assim ali despejaram sem qualquer remorso. É desses vestígios do degredo da humanidade que a vista abre, por entre arbustos, até uma vila assustadoramente desertificada e de aspecto sujo, chamada de Azenha do Mar. Aqui paramos momentaneamente com vontade de sair rapidamente em direção a Odeceixe. 

Chegamos ao parque de campismo de S. Miguel, um parque de campismo de luxo, assim designado pelas infra estruturas proporcionadas, para aqueles que querem acampar mas não o gostam de fazer. 

Para mim o luxo deste parque é reside apenas no preço exorbitante cobrado por esta entidade parceira dos trilhos da Costa Vicentina. O parque tinha bom aspecto, apesar dos frequentadores que lá estavam acampados. O terreno era limpo, com uma camada de agulhas de pinheiros que proporcionou um bom colchão, o bar/cantina tinha bom aspecto e uma vasta escolha de produtos trazem à clientela aquele sabor a casa, por fim os balneareos com um aspecto moderno e carateristicas atipicas para um parque de campismo, tais como desinfetantes de sanitas e cortinas de duche, no entanto a limpeza dos balneários deixou um pouco a desejar. 

Após montarmos acampamento percorremos mais uns dolorosos 2 km e fomos ao centro de Odeceixe para termos uma “luxuosa” refeição de despedida do Trilho dos Pescadores. Comemos o delicioso hambúrguer de black Angus, no Odeceixe Café, guarnecido com umas fabulosas batatas fritas com molho de alho e para empurrar umas cervejolas. Destacamos a simpatia e descontração natural da empregada que nos serviu como se tivéssemos em casa dela.

Dia 5

Acordamos com hora marcada, 09h50, com o autocarro de regresso a Lisboa. Desmontamos acampamento tomamos o pequeno almoço na cafetaria do parque de campismo. De estômago cheio e novamente de mochila às costas percorremos 1,5 km até à entrada de Odeceixe, fronteira entre Algarve e Alentejo, e ainda esperamos pela carruagem que nos transportará, durante 3 horas e meia, subindo toda a costa que descemos e de regresso a Lisboa. 

O que Trouxemos….

Esta é sem dúvida uma viagem que recomendo pela beleza que tem e por ser uma escapadinha perto de um dos maiores centros urbanos de Portugal. Os conselhos que guardamos após esta maravilhosa experiência é que sem dúvida que aconselhamos a irem devidamente descansados. Se não estão habituados a caminhadas, aconselhamos a não irem como fomos, em autonomia, é preferível ficar em hostels ou semelhantes e comerem pelo caminho ou levarem sandes, mantendo assim as mochilas leves. Aconselhamos a roupa indicada para a atividade, protetor solar e sapatos, fechados por causa da areia, próprios para caminhada, não poupem no calçado nem nas meias pois arriscam-se a ganhar bolhas como o Óscar e se lhe pergutarem acreditem que ele vos vai dizer que isso praticamente estragou a experiência. 

No planeamento do percurso e no site da Costa Vicentina vão encontrar os parceiros da costa, o que não significa nada, nesses parceiros não existe descontos ou recordações do Trilho, nem mesmo o mapa, que recomendamos compra, ou a nova versão que será lançada pela adventuremaps, temos mapas deles do Gerês e da Serra da estrela e recomendamos.

Mantenham-se nos caminhos marcados, tirem muitas fotos e 

AVENTUREM-SE!! 

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